Mesmo que mude



Durante a arrumação da mudança eu encontrei algumas poesias que eu escrevo, e me dei conta que eu ainda não havia escrito sobre um tema tão corriqueiro para todo mundo, e ao mesmo tempo tão difícil de conceituar, o amor. De Chet Baker a Charlie Brown Jr, de Nana Mouskouri a Marília Mendonça, todo mundo falar sobre amor. Amor começando, amor amigo, amor sofrido, amor bandido, amor traído, amor transcendente, amor que nem sabe que é amor. Não existe um ser humano sobre a terra que não sinta amor por alguém ou alguma coisa. Alguns amam o poder, alguns amam o dinheiro, alguns amam a si mesmo, outros amam outras pessoas. Mas sempre há amor. Ontem li um texto maravilhoso que dizia que graças a liberdade que conquistamos, cada vez mais as pessoas tem configurações diferentes do que entendem como família, e isso inclui morar sozinho e sentir-se um lar. Ninguém mais casa por obrigação, ninguém mais fica com alguém por convenção social. Isso permite que as pessoas fiquem juntas pelo que realmente importa, o sentimento. E esse tal amor tem faces tão distintas para cada um, mas eu estou falando de amor romântico, frio na barriga, borboletas no estômago... Amor por outra pessoa, que quando te abraça o resto do mundo deixa de importar. Uma banda gaúcha canta um refrão que todo mundo conhece, e que diz assim “É sempre amor / Mesmo que mude / É sempre amor / Mesmo que alguém esqueça o que passou”. 
Eu acredito que é sempre amor, que é possível amar mais de uma vez na vida, sim. É possível se apaixonar diversas vezes, as vezes pela mesma pessoa. Eu tinha 08 anos, e quando mudei de escola tinha aquele garoto com nome tão estranho quanto o meu, e que tinha a personalidade tão forte quanto a minha, e eu acho que sim, era amor; a gente se beijou somente muitos anos depois, mas dele eu recebi a carta mais linda, e mesmo ele tendo namorado todas as meninas que eu conheço, ainda torço lá no fundo do coração pela felicidade dele, porque eu acho que amor é isso, desejar o bem dessa pessoa para vida toda. Entre tanta gente que passou pela minha vida, claro que tem gente que eu mal lembro, que eu nem faço questão de pensar pelo tanto de tristeza e estranheza que trouxe junto. Mas tem gente que dá uma saudade tão boa, e esses eu tenho certeza que foi amor, porque eu ainda desejo que a vida deles seja repleta amor, mesmo que com outra pessoa. O meu melhor amigo do colégio. Ou aquele tal cara que me pedia em namoro toda vez que bebia demais, e quando acordava não lembrava de nada, mas que foi me encontrar em Paris, que me ensinou mais sobre a vida e cultura do que eu li em livros, e que eu chorei valendo no dia que casou com outra, porque entendi que eu tinha feito uma escolha que teve consequências que foram definitivas para aquele amor. O menino que leu mais livros e viu mais filmes que eu, e me mostrou que era possível gostar de mim quando eu não esperava isso. 
O amor me mostrou coisas diferentes, me mostrou que pode vir de pessoas que não receberam amor mas sabem transmitir amor; me mostrou que as vezes alguém não demonstrar do jeito que a gente gostaria não significa que esta pessoa não esteja fazendo seu melhor;  o amor me ensinou que as vezes amar não é suficiente quando as demais circunstâncias não colaboram, e as pessoas não ficam juntas; o amor me mostrou que quando a gente menos espera ele está ali, e a gente precisa cultivar ele mesmo quando não existe um ser para destinar aquele amor, porque se a gente esperar somente a presença da pessoa ideal para cultivar amor, a vida fica árida demais. Por isso eu acho que é sempre amor, mesmo quando a vida muda, mesmo que mude o sentimento por outro, é sempre amor.


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