Obstáculo na pista

Confesso que pensei que escreveria sobre muitas outras coisas antes de escrever sobre esse assunto. Confesso que estava mais preparada para um upgrade na carreira do que para ser desligada do meu projeto em plena segunda feira. De repente eu tinha que devolver as coisas da empresa, de repente eu não tinha mais agenda a cumprir, de repente eu não era mais a agrônoma da "multinacional", eu era só a Noelle de novo. Não que perder o emprego despersonalize alguém, mas nos últimos 02 anos e 04 meses eu vivi para minha vida profissional. Eu me tornei a profissional que respira trabalho. Eu deixei de ir no velório da minha vó porque estava em um treinamento. Eu acordei antes do sol nascer. Eu abri mão de festas de família e de amigos. Eu viajei aos domingos. Eu dormi mal, eu comi mal. Eu enfrentei dores nas costas, gastrite, crise de ansiedade. Eu me entreguei completamente a uma causa. Eu abri mão de relacionamentos pessoais quando eles interferiam no meu desempenho. Mas não, eu não tenho um pingo de arrependimento, pelo contrário. Toda a minha dedicação me trouxe conhecimento, disciplina, hierarquia, liderança, gestão de conflitos, inspiração, amigos. Esse emprego me trouxe a estrada! Eu faria tudo de novo, talvez sem a ansiedade. Mesmo trabalhando indiretamente com o campo, nas poucas interações eu me alimentava do contato com a terra e recarregava as energias para continuar. Os 08 quilos adquiridos nesse emprego são pesam no meu corpo nem na minha consciência, pelo contrário, eles me deram leveza.  Os 118.000 quilômetros rodados entre o RS, SC e PR me deram autonomia sobre o que eu sei fazer, sobre como fazer. Todo fim traz suas reflexões... Estou aprendendo, finalmente, a dizer NÃO; aprendendo que nós mulheres teremos de sempre provar que somos boas, porque não importa quanto espaço você conquiste sempre vai chegar alguém questionando sua posição; estou aprendendo que a cor das minhas unhas ou estar maquiada no campo não muda o quanto eu sei sobre plantas e produtos; estou aprendendo que vão existir pessoas que não vão acreditar em mim independente de quão boa eu seja, e pessoas que vão acreditar em mim mesmo quando eu errar e me equivocar; estou aprendendo que existem pessoas que me desafiaram para que eu crescesse; estou aprendendo que existem pessoas despreparadas em todos os níveis hierárquicos; estou aprendendo que existe sabedoria em qualquer cargo profissional; estou aprendendo a diferenciar zona de conforto de estabilidade; estou aprendendo que sempre tenho muito a aprender. Mas a coisa mais importante de uma empresa, de qualquer empresa, ouso dizer, são as pessoas. Na empresa e através da empresa, eu posso afirmar que fiz amigos. As mensagens e ligações que recebi, as palavras e o carinho nesse momento de tristeza me mostraram que eu não estou sozinha. E tenho plena certeza que algumas dessas pessoas eu levarei comigo pra onde for. "Quão pobres são aqueles que só possuem dinheiro", disse alguém. Nesse ponto de vista, me considero riquíssima, estou saindo cheia de experiências e amigos! Agora é esperar até a próxima carona, que vai me levar por um novo caminho nessa estrada.

"IN OMNIA PARATUS", do latim, "pronto para tudo"