Doçura, Delicadezas e Empatia


Querida doçura,

Quanta doçura suas cartas trazem a minha vida. Encontrei respostas suas para outras pessoas que serviram pontualmente aos meus anseios, o que me levou a duas conclusões e a esta carta. As conclusões são as seguintes: Não sou tão deslocada assim, afinal, sinto intensamente as mesmas coisas que qualquer pessoa normal sente; e como escritora, sinto que jamais chegarei a este nível de empatia, o que talvez me cause o medo que bloqueia minha criatividade para escrever quando se trata de falar sobre mim verdadeiramente. Você já escreveu a uma medrosa como eu, aconselhando que ela “escreva desesperadamente, escreva como se não houvesse amanhã”, e é isso que tenho feito. E também tenho lido bastante, pois um segredo que as pessoas não sabem sobre escrever é este: só conseguimos colocar palavras para fora na mesma medida em que absorvemos uma grande quantia de palavras. Por isso devoro livros. Por isso tenho sentido as palavras com tanta intensidade, como se tentasse que elas tapassem o buraco em meu peito. Mas sei também que você me diria que a resposta que procuro você não pode me escrever. Eu sei, Doçura. A resposta que eu procuro só pode ser escrita por mim mesma, quando combinar as palavras certas em uma frase coerente, e elas se encaixarem em meu peito. E eu e você sabemos que somente quando isso acontecer é que todo resto vai acontecer também. A escrita é um caminho solitário, e nem sempre doce. Engraçado, pois eu sempre escrevi cartas esperando respostas, e essa, justamente essa carta que eu sei que não vai ter resposta parece tão completa para mim. Talvez porque suas palavras tão doces já fizeram o trabalho árduo de responder a cada uma de minhas angústias: sobre perda, sobre dívidas, sobre cobrar amor, sobre dizer não, sobre esperar, sobre ser mãe solteira, sobre amar. Sobre coisas que eu nem sabia que queria saber, você já respondeu. Talvez o grande mérito da sua doçura é que ela acalma e traz paz. Então essa carta não é para perguntar, é somente para dizer. Obrigada, Doçura. 

Um abraço, sua leitora brasileira viciada em doces.

(Doçura é o codinome com que a autora Cheryl Strayed assina as cartas que responde em uma coluna americana onde recebe questões das mais diversas e profundas e muitas vezes dolorosas; que ela responde com toda a sinceridade e beleza que só a dor e a empatia podem construir. Tudo isso está reunido no livro Pequenas Delicadezas - editora Objetiva. Mas também é possível encontrar o livro digitalizado no Google para leitura online).




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