Sim! Eu sou feminista!

O livretro "Você é incrível" possui lindas mensagens empoderadoras!

Essa semana recebi uma encomenda especial: um livro de cartões destacáveis feito por mulheres e para mulheres, numa iniciativa privada em apoio a Rede Mulher Empreendedora. E cada lindo cartão traz mensagens inspiradoras, que me motivaram a escrever esse texto, que eu queria a muito, muito tempo colocar "no papel". Esse texto é cheio de links e eu espero motivar mais e mais mulheres a pensarem sobre o assunto. E também aos homens a pensarem sobre o assunto. E se todo mundo pensar sobre o assunto, eu ficarei extremamente feliz, já que que mesmo quando o assunto é incômodo, ou especialmente quando o assunto é incômodo, precisamos refletir sobre ele... Vamos lá?!



Um erro muito comum que aparece nos ataques ao feminismo, é dizer que somos contra os homens, o que está bem equivocado. Quando defendemos o feminismo, estamos buscando equidade, ou seja, igualdade de direitos. Afora nossa biologia complexa que nos distingue em gênero masculino e feminino, nada mais além do sistema reprodutor nos diferencia, sendo o cérebro de um gênero tal qual o cérebro de outro. Como muitas escritoras que definiram termos e frases usadas até hoje, a francesa Simone de Beauvoir deixou marcada a frase, “não nasce mulher, torna-se mulher”. Sim! Somos ensinadas desde pequenas, assim, como nossas mães foram ensinadas por nossas avós, e assim sucessivamente, a sermos servis, gentis, estarmos emocionalmente disponíveis, cuidarmos da casa em jornada extra (mesmo que trabalhemos tanto quanto os homens profissionalmente), a recuarmos em uma discussão, a sorrirmos, a sermos culpadas por usar roupas curtas, entre ouras tantas culpas e atribuições a nós simplesmente por sermos mulheres. Veja bem: criar laços é característica de muitas de nós, mas não pode - nem deve - ser uma obrigação exclusiva do nosso gênero. Somos ensinadas desde pequenas que devemos gostar de rosa, ganhamos bonecas e panelinhas enquanto os meninos ganham carrinhos e ferramentas, devemos sentar “como menina” (de pernas fechadas). Somos inclusive responsabilizadas quando estupradas, por estarmos no local errado, na hora errada, com a roupa errada. Não! Quando a primeira mulher votou no Brasil, e quando a primeira prefeita foi eleita no Brasil, ambas em 1928, tiveram estas ações anuladas, porém serviram para que as mulheres da época fossem encorajadas a continuar lutando. Somente em 1932, o então presidente Getúlio Vargas nos deu direito a voto. Nos EUA, as sufragistas que lutaram pelo direito a voto, em anos anteriores haviam lutado pela abolição da escravidão. Não sem razão, as lutas feministas estão normalmente entrelaçadas a lutas de minorias, uma vez que quando o assunto migra para mulheres negras, presume-se que todas tenham que ser necessariamente ainda mais fortes, pois sua cor representa uma luta de muitos e muitos anos, então ser mulher é apenas mais uma delas. Não! Não acho que devemos ficar explicando tudo o tempo todo, mas eu já tive de me levantar em uma apresentação de trabalho e explicar que “inteligência não tem sexo”, porque escolhi uma profissão predominantemente masculina, e nunca me deixei intimidar por isso, embora tenha que ouvir constantemente piadas e observações infames. As lutas vão da cultura ao direito, sendo que, infelizmente ainda não somos donas de nossos corpos quando ainda neste século está plenamente ativa a luta pela legalização do aborto, ou seja, ainda hoje não temos direito de decidir sobre o que acontece com nosso corpo, pois sem a legalização do aborto, mulheres continuam sendo submetidas a clínicas e procedimentos clandestinos, onde muitas ainda morrem lutando para ter direito a escolha; direito a propriedade, direito ao divórcio, direito a equiparação salarial, proteção a violência doméstica, entre tantas outras; quanto a cultura, acho melhor nem começar, mas vamos lá... Somos bombardeadas por estereótipos o tempo todo: mulheres nuas ou excessivamente pornografadas ao lado de homens bem vestidos, lutamos diariamente para manter nosso lugar em profissões diversas, mesmo aquelas em que já conquistamos nossos lugares, temos de provar exaustivamente que somos capazes, que podemos sustentar um alto cargo e vida pessoal, ou somos tidas como megeras ou frias, e infelizmente os índices de mulheres demitidas após retornar da licença maternidade são altos. Por fim, uma ação recorrente chamada “gaslighting” que nada mais é do que a naturalização da mulher como descontrolada emocionalmente, já que muitas somos intensas, sensíveis, exageradas, e muitos homens (e até outras mulheres) manipulam as falas e situações, fazendo-nos acreditar que a culpa é nossa, mesmo quando não é. Existem muitos outros termos que identificam ações recorrentes (que você pode conferir aqui). Como se pode ver, nosso trabalho em difundir o feminismo é árduo e contínuo. Vivemos em uma época em que precisamos nos posicionar, tomar partido, precisamos esclarecer os termos, as diferenças, e as ações errôneas, e precisamos que as novas gerações compreendam e mudem os termos daqui pra frente. Ser mulher não pode ser um fardo. Ser mulher é maravilhoso e precisa ser respeitado. 



Achou meu texto confuso?! Estranho?! Não concorda?! Tudo bem, deixo aqui mais alguns para que você leia e a gente converse:




Disponibilidade emocional, por Rose Hackman (The Guardian, em inglês)

Sobre relacionamentos abusivos, o SEMPRE atual vídeo da JoutJout "Não tira o batom vermelho"




Por fim, deixo a singela sugestão do lindo livro de poemas e ilustrações da indiana Rupi Kaur, que com toda a delicadeza nos conduz por poesias que trazem imensa verdade, em "Outro jeitos de usar a boca" (editora Planeta - aqui 07 razões para ler este livro).

Quero pedir desculpa a todas as mulheres 
que descrevi como bonitas antes de dizer inteligentes ou corajosas 
Fico triste por ter falado como se algo tão simples 
como aquilo que nasceu com você, fosse seu maior orgulho, 
quando seu espírito já despedaçou montanhas 
De agora em diante vou dizer coisas como, “você é forte” ou, “você é incrível!” 
não porque eu não te ache bonita, mas porque você é muito mais do que isso.




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