Ponto de partida

Resolvi voltar a escrever sobre o agro, mas antes de tudo, acho que preciso explicar como minha trajetória no Agro começou, ou, melhor dizendo, o ponto de partida dessa estrada...


Um pouco dessa estrada...


Eu sou neta, filha e sobrinha de produtor rural; a gente brinca que “arroz tá no sangue”. Minha família, por parte de pai, é descendente de italianos da Quarta Colônia de Imigração Italiana, e por parte de mãe, de descendência latina. Eu e minha irmã fomos criadas muito livres, sem pressão sobre o futuro, podendo escolher aquilo que a gente quisesse ser. Mas eu sempre tive imenso orgulho da trajetória de minha família na construção de um legado, começando do zero e fazendo história, como se diz! Quando decidi trocar a faculdade Administração por Agronomia, meu pai me disse que sempre teria lugar pra mim lá fora. Mas quando a hora chegou, não foi bem assim. Antes mesmo de encerrar o décimo semestre eu já tinha colocado as malas no carro e me mudado pra Itaqui. Meu pai dizia que eu deveria pagar para aprender, mas me deixou trabalhar com ele, me colocou para trabalhar como ajudante de agrônomo, que era só uma forma “menos pior” de dizer que eu era peão. Sei abrir e fechar porteiras como poucas! Realmente, a distância entre o que ensinam na universidade e o cotidiano de uma lavoura é bem distante, eu não tinha experiência nenhuma, só tinha comigo uma vontade imensa de mudar o mundo. Mas fui aprendendo que precisava mudar primeiro a mim mesma. E assim, eu fui aprendendo a plantar, cultivar, colher...  Os gargalos, percalços e dificuldades da atividade arrozeira. Foram 14 meses, duas safras de arroz acordando 04:30 da manhã e indo dormir depois das 23h. Mas realmente, eu aprendi muito de lavoura! Meu amor pela terra e pelas plantas era maior que os desafios e o machismo que eu enfrentei. É, acabei descobrindo que meu pai é machista: se eu falava algo, dava uma sugestão ou mostrava algo errado, era ignorada ou xingada; se outra pessoa falasse a mesma coisa, era ouvida, era levada a sério. O salário era pouco, as oportunidades de me manifestar também. Até que em dado momento as brigas foram infinitamente maiores e mais profundas que discussões de trabalho, e meu pai me demitiu. Começou, então, minha saga pelo agronegócio: indústria de beneficiamento, consultoria para financiamento rural, concursos, multinacional, alimentação saudável, vendas, clientes, outra multinacional. Aprendi muito sobre todos os aspectos: da porteira pra dentro, da porteira pra fora. E eu sempre buscando compreender a sucessão rural e todas as suas implicações. Era difícil compreender porque algo que deveria acontecer em algum momento era impossível de se tornar realidade para mim. Na multinacional em que trabalhei por mais tempo, eu era responsável pelo relacionamento com cooperativas, e por deixar um legado de conhecimento aos responsáveis pela mesma que interagiam com a marca. Nosso desafio era levar um conhecimento diferenciado aos consultores, e por consequência aos produtores. Nisso, eu convivi com gente grande, grandes nomes da Economia Rural, Agronegócio, Gestão, os melhores de cada área de conhecimento... Fizemos até um programa piloto em sucessão rural. Na verdade, o termo sucessão é bem equivocado: um filho só sucede o pai se este morrer; se os dois estão vivos, e trabalham juntos, ocorre a co-gestão, ou gestão compartilhada. Gerir o entusiasmo do mais novo com a sabedoria do mais experiente. Claro, uma geração sempre vem para quebrar paradigmas das gerações anteriores, e isso não acontece sem conflitos. Mas a vontade de dar certo é maior que as diferenças, e assim eu vejo colegas e amigos trabalhando com as famílias e dando certo, indo adiante, aumentando a produtividade e colhendo resultados positivos. No meu caso, eu brinco que “eu sou uma sucessora que não deu certo”. Minha família tem uma maneira mais individualista de tocar as coisas, os negócios do meu avô são separados dos negócios do meu pai, e do meu tio, e assim por diante. Eu teria de brigar bastante para ter meu espaço lá, e eu já estava cansada de conflitos, então tive que me afastar para descobrir meu caminho, para entender quem eu sou, e ser ouvida. Hoje as pessoas escutam o que eu falo, os produtores prestam atenção nas minhas palestras, e eu sigo estudando, lendo, e tentando extrair o máximo de conhecimento de onde eu posso para levar isso adiante. A tecnologia é uma realidade hoje no agronegócio, mas as pessoas que comandam estas tecnologias serão sempre necessárias. Por melhores que sejam os softwares, a tomada de decisão ainda será das pessoas que estão ali. E é nisso que eu acredito: nas pessoas que fazem o agro. E esse meu caminho me apresentou pessoas maravilhosas, grandes amigos que exaltam o agro em suas atividades, e estão me ajudando nessa busca por uma nova colocação. E eu sei que estou muito perto de encontrar um novo rumo. Você pode estar pensando que contar essa história pode ser uma ode ao “vitimismo”, mas eu sou honesta demais para isso; o que eu quis, ao contar minha história, foi mostrar que mesmo quando a gente acredita muito em algo, como eu acredito na sucessão rural, por exemplo, isso pode não ser sua realidade, como não é a minha. Mas isso jamais me impediu de estudar e compreender o assunto, ou fez com que eu me afastasse do agro. Pelo contrário, eu sigo acreditando no agronegócio e buscando formas de mostrar que ele está presente em tudo, em todo o lugar! Eu ainda não sei exatamente qual é o meu propósito, mas sei que ele envolve alimentar o mundo; talvez não seja com arroz, e sim, com palavras; quem sabe?! Vou voltar para a estrada semana que vem e tentar descobrir... Vem comigo?!



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