La Mondina




Todas as vezes em que alguém vai comer risoto feito por mim, surgem, inevitavelmente, curiosidades sobre o arroz usado para risoto. As variedades de arroz arbóreo e Carnarolli, as mais conhecidas para o preparo do prato, são pouco cultivadas no Brasil, por isso o preço elevado do pacote de arroz para risoto. Essas duas variedades possuem maior teor de amido no grão. A consistência do prato depende bastante da quantidade de amido presente no grão, que durante o cozimento vai se soltando do grão e dando aquela liga junto ao “brodo” (caldo de preparo). O arroz foi introduzido na Itália pelos sarracenos (povo árabe que habitou a península ibérica e se espalhou pelo mediterrâneo, onde a cultura do arroz se adaptou bem).O surgimento do prato, segundo historiadores, deve-se a festa de casamento da filha de um famoso vidraceiro italiano, Valerio de Flanders, na região da Lombardia, onde acidentalmente se derrubou açafrão no cozimento do arroz dando origem ao “risoto alla milanese”. Até aqui, curiosidades fáceis de serem encontradas na internet. E se os papos migram para a cultura do arroz eu também consigo entreter meus amigos e convidados com informações que muitas outras pessoas também sabem. 
Porém, o que poucos sabem, é que o arroz era cultivado na Itália por mulheres! Sim! Sem entrar em particularidades de cultivo, mulheres dividiam com os homens as tarefas de cultivo, não importando se eram tarefas pesadas ou leves (mas na cultura do arroz as tarefas dificilmente são leves, devido ao alagamento do terreno, que torna mais cansativa a caminhada).
Os homens trabalhavam nas operações de preparo da terra, e as mulheres entravam em ação na trapiantè, ou em português, no transplante manual das mudas nascidas para o solo encharcado, e na mundè, ou em português, no arranque manual das ervas infestantes do arrozal (num período pré-herbicida, fim do século XIX e início do século XX). Essas trabalhadoras sazonais eram chamadas de mondinas, ou mondariso. A expressão “le mondine” ficou conhecida no filme italiano “Riso Amaro”, drama do neorrealismo italiano, que tem como pano de fundo o trabalho das mondinas, e mostra seu dia a dia, as vestimentas, as condições de trabalho insalubres, as canções populares que elas entoavam durante o trabalho. 



Vai dizer que não fica mais gostoso saborear um belo prato de risoto agora, sabendo as origens desse prato e que ele era, originalmente, cultivado por mulheres muito fortes e alegres?! A mim, me deixa sempre feliz um prato de risoto! Desejo um ótimo final de semana a todos os meus queridos leitores, estamos em 16.000 acessos e eu só posso agradecer vocês mais e mais!


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