Mais Razão, Menos Emoção... Enfim, Sucessão




- Mais de 80% dos negócios familiares não chegam à terceira geração?
- 62% das empresas não estão preparadas para eventuais afastamentos de gestores-chave?
- 7 de cada 10 empresas não dispõem de procedimentos para resolver conflitos familiares?
- Apenas cerca de 20% das fortunas brasileiras atuais são herdadas? - A maioria se perde em conflitos familiares, que poderiam ser evitados.
(fonte: Tratto Consultoria)

Falta de diálogo, Preconceito de gênero, Protecionismo, Rivalidade entre irmãos, ciúmes, conflitos de gerações, etc... As causas das brigas são as mais diversas. Já vi gente brigar porque um encilhava o cavalo diferente do outro. Mas acontece. Muitas vezes as piores brigas são pelo tom de voz errado, embora os argumentos estivessem certos. Muitas pessoas confundem sucessor com herdeiro, e já começamos equivocados. Herdeiros, são aqueles que por direito herdam o patrimônio; sucessor, pode ser alguém da família ou não que sucede alguém nos negócios. A palavra sucessão assusta porque dá a ideia de que a pessoa vai morrer ou deixar de existir. Por isso eu prefiro muito mais a expressão gestão compartilhada, onde se busca aliar o conhecimento tecnológico da nova geração com a experiência da geração que vem trabalhando no negócio.
Uma das maiores dificuldades que eu acompanho ao longo dos meus seis anos de agrônoma trabalhando nas mais diversas áreas da produção agrícola é a informalidade; o campo, embora já adepto de tantas tecnologias e inovações ainda não se profissionalizou. Aí a palavra mais utilizada nos processos de sucessão assusta ainda mais: governança corporativa. Governança é o conjunto de regras e controles para melhorar o processo de gestão da empresa. Isso parece óbvio em outras empresas, mas no meio rural ainda não é tão comum. Afinal, como iremos criar regras entre pais e filhos, netos e sobrinhos, se domingo almoça todo mundo junto?! Porém, sentar e estabelecer protocolos não é opcional, é obrigatório.
Então esse é o primeiro obstáculo emocional da gestão compartilhada, separar o pessoal do profissional. Alguns especialistas chamam isso de acordo, alguns mais profissionais chamam de governança, enfim, os nomes são muitos, mas é preciso instituir uma diretriz que vai nortear as atitudes. É bem comum ver o sucessor dar um comando na fazenda e o mais velho chegar e “desmandar”, ou desacreditar o sucessor na frente de outras pessoas. Isso atrapalha o negócio. Por isso a necessidade de estabelecer estratégias, regras, organogramas, descrição de cargos, reuniões periódicas, metas... Isso mesmo. Existe uma frase na ciência que diz que aquilo que não se pode medir, não se pode modificar”. Então precisamos mensurar a eficiência dos processos, estabelecendo padrões/protocolos. Só com esse início, a maioria já desiste. Quando se fala em mudança, principalmente de comportamento, a primeira que aparece é a resistência.
Outro ponto importantíssimo que gera muito desconforto são as finanças. Normalmente as contas pessoais e as da fazenda são misturadas. E aí quando sugere-se separar as coisas, muitos acham que alguém tá “metendo a mão” na grana, mas é o contrário, é outra forma de ter controle. Mas gestão financeira é importante para controle de riscos, planejamento de investimentos, uma vez que o mercado atua com margens cada vez mais justas. Alguns especialistas sugerem a formação de uma holding, um PJ. Outro ponto de resistência, porque mudam os impostos, mas também facilita bastante no que tange a transferência de patrimônio.
A gestão de pessoas remete lá acima, ao emocional. Tem gente que trabalhou a vida toda na fazenda, mas não corresponde ao mercado atual. Tem gente que quer entrar no negócio e não tem noção do que acontece e como acontece. Estabelecer critérios para as pessoas entrarem no negócio, estabelecer critérios para as pessoas saírem do negócio, estabelecer quem é herdeiro e quem é sócio, contratos para com os genros e noras... Pode parecer preconceito, mas é um patrimônio grande e não é de uma só pessoa, é de várias, é importante pensar no futuro, parece que vai demorar a acontecer, mas ele está logo ali.
Organização é fundamental, ou como se diz, “deixar os papéis em dia”. Ninguém está livre de uma fatalidade, então os “contratos de gaveta” ou “no fio do bigode” como faziam antigamente devem ser passados a limpo em contratos verídicos, registrados. Não é necessário um departamento jurídico na empresa, mas com certeza uma boa assessoria jurídica é imprescindível, não apenas na parte trabalhista, mas principalmente na parte tributária.
Herdeiros tornam-se sócios em um negócio sem terem escolhido isso, ou seja, eram irmãos e/ou primos e de repente tornam-se sócios. E sociedade é igual a casamento, alguns dão certo, outros não. A melhor forma de minimizar os conflitos e por consequência os riscos é através de um bom planejamento e uma execução consistente. Pensar com a razão e deixar a emoção de lado, para que os almoços de domingo não se tornem uma arena de disputas e sim continuem um momento de paz e descontração.

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